Monday, December 11, 2006

O valor da peseta

Interessante o artigo de Paulo Portas no Sol desta Semana. Lembra as suas tias-avós castelhanas, católicas e monárquicas e da Espanha de alpercatas desses tempos. Compara a evolução do país vizinho com Portugal nos últimos cinquenta anos, desde que a peseta valia exactamente metade do escudo.
Diz que ninguém imaginaria que a Espanha chegasse onde chegou, que a transformação de Espanha é um milagre humano e que por ser tão próxima mais envergonha o resultado de Portugal no mesmo período.
Acrescenta que, não sendo abonatório Portugal cresceu o que naturalmente teria de crescer.

Depois vêm explicados seus os porquês:

Primeira razão - Franco foi melhor que Salazar.
Segunda razão - Juan Carlos foi melhor que a revolução.
Terceira razão - Felipe González foi melhor que Soares e Guterres.
Quarta razão - Aznar foi melhor do que Cavaco e Durão.

Portas não quer falar de Sapatero mas adianta que o actual PM espanhol está a ser imprudente.

A análise não deixa de ser interessante vindo de alguém que teve responsabilidades partidárias e governativas.

Não concordo com Paulo Portas quando diz que Portugal cresceu o que naturalmente teria de crescer. Na verdade acho que pior seria impossível e que Portugal cresceu de acordo com a péssima governação que recebeu ao longo dos últimos cinquenta anos. É que não se trata só de milagre espanhol. Veja-se onde está hoje Irlanda e a Grécia, países que estavam com situações de desenvolvimento semelhantes.

É verdade que Salazar governou como um provinciano e com a sua política de condicionamento industrial não permitiu que o país se desenvolvesse; (ao contário de Franco que apostou na indústria).
A revolução destruiu as poucas bases produtivas que o país tinha e começaram os governos da irresponsabilidade.
Irresponsabilidade, que se pode desculpar durante um processo revolucionário, mas que é absolutamente inadmissivel num país com democracia plena. E na verdade Portugal continuou a ser (des) governado de forma irresponsável.
Todos foram piores que os espanhóis. Eu diria que todos foram piores que todos. Pior seria impossível.
Deixou-se chegar a administração pública onde chegou. Um completo atoleiro.
Deixou-se chegar a Justiça, um dos pilares de qualquer democracia, onde chegou. A corrupção é campeante e a impunidade total.
Desbarataram-se alegremente os milhões da Comunidade enquanto os outros os aproveitaram proveituosamente.

Os resultados estão à vista. Pagamos mais impostos e ganhamos menos. Trabalhamos mais, mas sem produtividade. O salário mínimo é quase "africano". Os portugueses novamente emigram.

Somos uma vergonha. E os que conduziram o país a esta vergonhosa situação continuam lá; numa política de compadrios vão trocando cargos, vão amealhando para reformas douradas. Tal e qual como em qualquer república africana. Só que aqui meus senhores, é Europa.